quinta-feira, 13 de junho de 2013

A arquitetura do genoma


Marcelo Leite, em artigo publicado na Folha de S. Paulo, chama atenção para a espantosa organização dos cromossomos dentro do núcleo celular. Ele explica que “os genes se enfileiram nos cromossomos, quase sempre desenhados na forma de X ou Y, como bastonetes listrados unidos por uma espécie de cintura (os centrômeros). Mas essa é uma imagem enganosa, porque os cromossomos só assumem essa conformação durante uma curta fase da divisão celular. São poucos minutos, contra muitas horas em que os bastonetes desaparecem”. “Nesse período”, Marcelo prossegue, “os cromossomos ficam num estado menos compactado. A fita de DNA, que pode ter metros de comprimento se esticada, em lugar de se enrolar sucessivas vezes sobre si mesma para formar os bastonetes, fica ‘solta’ dentro do núcleo. Quer dizer, mais ou menos solta”.

Aí entra a organização: “Um determinado gene pode ficar inacessível para a célula se o trecho correspondente do cromossomo não se desenrolar, de modo que as letras que o compõem possam ser ‘lidas’. O rolo é controlado por um sistema de proteínas cuja mecânica não se encontra sob influência do DNA – é o que se chama de ‘epigenética’.”




Marcelo afirma que a distribuição dos cromossomos dentro da célula não é aleatória, mesmo na fase mais relaxada. O núcleo celular tem arquitetura [note a linguagem de design aqui], com recintos próprios para cada um deles. Os pesquisadores mapearam mais de 2 milhões de interações entre partes de cromossomos. O resultado foi publicado no periódico científico Nature
 
Numa reportagem na revista The Scientist, Cristina Luiggi entrevistou o biólogo Tom Misteli, do Instituto Nacional do Câncer dos EUA, sobre a importância de se visualizar a estrutura tridimensional do DNA dentro do núcleo. Ele respondeu: “É uma propriedade fundamental do genoma se organizar, dobrar-se de algum modo dentro do núcleo. Agora está ficando claro que há mais coisas no genoma que a sua sequência. Temos que descrever como o genoma se organiza, desvendar os mecanismos envolvidos na organização, e aí descobrir como a organização contribui para a função. Estamos ainda desenvolvendo as ferramentas para realmente enfrentar essas questões de modo sistemático.”